Cada peça feita pela artista plástica Calu Fontes é uma obra de arte por si só. A pintura em porcelana e azulejos, combinada com o uso de decalques, formam painéis, paredes inteiras, móveis e peças atemporais, que nunca saem de moda.
Calu Fontes em frente às suas peças. Técnica mistura pintura à mão e uso de decalques em objetos
Quem visita seu ateliê na Vila Madalena mal consegue imaginar a artista rabiscando os cadernos dos colegas e fazendo molduras para os trabalhos da faculdade de arquitetura. Ao conseguir estágio em uma loja de cerâmica, no entanto, essa vocação pôde – finalmente – ser colocada na cerâmica e mostrada ao mundo.
Azulejos colados na parede formam um espaço zen em área externa. Antes de começar a pintar, artista rega plantas, acende incensos e ouve música
Calu costuma dizer que nunca sabe como ficará uma peça quando começa a pintá-la. Seu processo criativo começa logo pela manhã, quando ela chega ao ateliê, abre as portas, rega as plantas do jardim, acende um incenso, lê alguma coisa e depois coloca a mão na massa.
Azulejos podem ser colados em paredes, escadas e móveis
O trabalho da artista traz alegria e vibração a ambientes variados, como salas, varandas e cozinhas.
Na cozinha, painel sobre a pia deixa ambiente bem descolado e jovial
A artista deu uma pequena entrevista para a gente. Confira:
Como e quando você começou a pintar?
Eu amo desenhar desde pequena, sempre gostei! Comecei a pintar porcelana assim que ingressei na faculdade de Arquitetura do Mackenzie, o ano era 1993. Ao invés de estagiar em um escritório de arquitetura optei por um estágio em um ateliê de cerâmica. Assim, as pinturas e desenhos que eu já fazia em papel e aquarela foram parar em cerâmicas e utilitários.
Como se dá seu processo criativo?
Gosto de trabalhar ouvindo música e algumas vezes os trabalhos nascem destas melodias. Também alguns saíram de poemas como um quadro que fiz com um texto da Emily Dickinson, outro foi inspirado em um poema do Neruda e outro em um do Vinicius de Morais. Além da porcelana eu também trabalho com desenho, aquarela e colagens, e geralmente uso o mesmo roteiro quando inicio um trabalho: escolho um elemento que será o ponto de partida para começar e, a partir daí, sigo sem saber aonde vai dar. Gosto de descobrir meu próprio trabalho e me surpreender com que rumo ele tomou. No caso da porcelana, meus trabalhos mesclam o adesivo com a pintura à mão. Geralmente começo fazendo uma base de tinta com texturas e arabescos feitos com pincel. Esta peça vai ao forno. Quando retorna para as minhas mãos, aplico decalques e ela vai ao forno novamente. Muitas vezes continuo o processo fazendo mais uma camada de sobreposição de desenhos e submetendo-a a mais uma queima. Digamos que funciona mais ou menos assim: a cada layer, uma queima.
E a evolução da sua arte? O que você gostava de pintar e que ficou para trás? Qual sua principal inspiração agora?
No início, eu trabalhava apenas com pintura à mão. Somente após sete anos, introduzi o decalque nas composições.
O que vc gosta mais de fazer? Vasos, azulejos…
Não tenho uma peça preferida. O estimulante é justamente ter esse leque de opções.
Você diria que suas peças combinam com qualquer estilo ou tem um perfil que se adequa mais?
Acho que combina com qualquer estilo. Fico feliz quando alguém escolhe uma peça no meio de tantas. Como são todas exclusivas penso que ela foi feita para aquela pessoa que a escolheu. Aonde ela será colocada e como será usada fica por conta do cliente, sem minha interferência.
Que ambiente que você mais gostou de fazer?
Atualmente, meu xodó é o painel de azulejos que fiz para o evento Design Weekend. Montei um painel de azulejos nas seguintes dimensões: 5,50m x 2,40m. Foi um presente para a cidade, inspirado na azulejaria portuguesa e nos peixes porque sou filha de Iemanjá e minha família é toda da Bahia. Ele está instalado na esquina da Rua Aspicuelta com Vicente Polito, na Vila Madalena. O projeto Arte na Cidade fica à vista de todas as pessoas que frequentam ou estão de passagem pela rua.
Esse aí de baixo é o xodó da Calu, que ficou de presente para a cidade de São Paulo.
Artista, que tem família baiana e é filha de Iemanjá, se inspirou em peixes e azulejaria portuguesa para fazer painel
A gente agradece, Calu!
As fotos são daqui